segunda-feira, julho 11, 2005

OLHANDO(-ME)(-TE)

Poderia dizer que tudo permanece igual
Mas sobra-me este olhar inquieto
Cores e silêncios que evadem do meu corpo
E num rodopio, misturam-se, embriagam-se
Desfazendo a suposta placidez do tempo
Confundindo a ordem aparentemente estabelecida
Não falo destes sentimentos básicos
Que se enclausuram em moldes
Ou que voam em rotas definidas
E se autodenominam profanos ou sagrados

Desaparto-me dos modelos, das grades
Para deambular no que não sei de mim
Não quero apenas sobreviver, respirar
Quero-me além dos espelhos, das confissões
Das declarações explícitas dos pecados
Ou da remissão dos desacertos, das faltas
Sou desmedida, quando digo que amo
Inexata em gestos que me supõem
Minhas mãos não ocultam carícias
Falam sem pudor de tremores, gemidos
Dos arrepios e calafrios do coração
Escrevem espinhos, sangram letras
Vivem a me surpreender em atitudes
Desnudam-me os pensamentos, a alma

Nego-me à mesmice, absolvo-me da normalidade
Concedo-me o direito da busca, do sonho
Dou-me ao ardor de seguir por labirintos
Quando é minha a fome de caminhos
Alimento-me das descobertas, dos percursos
Perdôo o enfado, o cansaço e até o tédio
De quem apenas abraça destinos, chegadas
Sou de pegadas, de experimentar passos
De tatear-me em meio às brumas

Há quem sonhe com oásis, flores
Mantendo os olhares entre muros
Espreitando a vida pelas frestas
Há os que abafam suspiros, desejos
Confinando-se como limite, fronteira
Protagonizo-me sem ensaios, sou de vivências
E mesmo, quando as cortinas parecem fechadas
Estreio-me, reviro minhas falas e emoções
Interessa-me o enredo da vida
Por isso acendo as luzes dos bastidores...


Fernanda Guimarães